© Rubens Queiroz de Almeida
O Oriosvaldo estava andando pela rua quando encontrou seu velho amigo de infância, o Antenor, psicólogo de renome. Após os abraços e saudações de costume, o Antenor perguntou como ia de saúde o seu amigo.
O Oriosvaldo, triste, respondeu: “Não vou muito bem não. Botei na cabeça que, quando vou dormir, tem alguém embaixo da cama. Se vou para baixo da cama, cismo que tem alguém em cima. É a noite toda neste inferno, embaixo, em cima, embaixo, em cima. Não consigo pregar o olho”.
O Antenor, fazendo jus à sua fama, promete: “Se você se tratar comigo, em um ano estará curado”.
Oriosvaldo, desconfiado, pergunta: “E quanto isto vai me custar?”
“Muito pouco”, responde o Antenor. “Serão duas sessões semanais, durante um ano, a R$ 200,00 a consulta”.
Oriosvaldo, fazendo suas contas, toma um susto e diz que vai pensar no assunto. Despedem-se, e um ano depois, acontece um novo encontro.
O Antenor, curioso por não ter tido notícias do amigo por tanto tempo, pergunta-lhe sobre sua fobia. Oriosvaldo, feliz, responde que está curado.
“Mas como conseguiu isto? Quem foi que conseguiu te curar?” questiona Antenor.
“Meu barbeiro”, responde Oriosvaldo.
“Seu barbeiro?? Mas como??” exclama o Antenor surpreso.
“Foi mais simples do que eu imaginava. Eu contei meu caso para meu barbeiro e ele me disse que por R$ 10,00 me curava em um dia. Eu aceitei na hora. Ele então me disse para cortar as pernas da cama.”
Esta história ilustra um fato interessante, talvez de forma um tanto extravagante. Um dos mitos de maior força em nossa cultura é que o simples não é válido. Apenas aquilo que é conseguido com muito esforço tem valor. Bom, sim e não.
Não existem verdades absolutas, mas a busca pela simplicidade deve ser uma meta permanente em nossas vidas. Na educação, no trabalho, em casa. Quantas e quantas vezes já vi projetos se arrastarem por anos a fio, por serem projetados de forma complexa e por serem, conseqüentemente, inviáveis, exigindo enormes dispêndios de recursos financeiros e humanos.
Também na educação temos a tendência de querer complicar algo tão simples, como a capacidade de aprendizado. Para aprender, dizem muitos, temos que estar e ser sérios. Diversão e aprendizado não combinam. Inventamos múltiplas teorias. Veja só como os americanos ensinam suas crianças a soletrar suas palavras. Regras complicadíssimas, que nenhuma pessoa normal tem capacidade de memorizar. Como seria mais simples contar histórias em sala de aula, despertando o interesse dos alunos pela leitura. Pela leitura constante aprendemos intuitivamente as regras de funcionamento do idioma, sua fonética e estrutura, sem dor e sem necessidade de memorizar regras impossíveis de serem aprendidas.
Das poucas coisas que me lembro do meu tempo de escola primária, as mais marcantes são as sessões de leitura com minha professora. Robinson Crusóe, Monteiro Lobato, e muitos outros. Não se ouvia um barulhinho na sala de aula. Dali para a leitura de mais livros, desta vez por conta própria, deixando a imaginação construir todos os cenários fantásticos destes livros inesquecíveis. Confesso que não conheço nada de gramática, mas estes livros e muitos outros que aprendi a gostar de ler, me ensinaram a me expressar de forma correta.
Nas minhas aulas de inglês instrumental, a maior dificuldade que tenho é convencer meus alunos que aprender a ler em inglês não é complicado e não toma quase tempo nenhum. Tudo o que faço é lhes dizer, em primeiro lugar, que são capazes de fazer qualquer coisa que desejem e acreditem nisto. Em segundo lugar, peço aos alunos que tenham em mente que o que buscam é o divertimento, e não aprender inglês. O mais importante é buscar se divertir, o aprender é uma conseqüência, muitas vezes que acontece de forma sutil e quase sem nos darmos conta disto. O terceiro ponto é o tempo. Sempre temos tempo para fazer o que gostamos. Quem diz que não tem tempo de ver um jogo da copa do mundo? Muito poucos. Uma vez que eu consiga convencer os alunos dos dois primeiros pontos, o terceiro ocorre sem problemas.
Aprender a ler em inglês não tem mistério. Mostro apenas algumas técnicas e depois tento recomendar materiais para leitura. Não forneço uma receita fixa, digo apenas que cada um deve buscar a leitura daquilo que lhe dá prazer, não importa o que.
Em uma de minhas aulas, vendo que meus alunos não tomavam a iniciativa da leitura por conta própria, comecei a perguntar-lhes que tipo de leitura lhes dava prazer. Um dos alunos foi veemente em suas afirmações de que não gostava de ler. Fiz-lhe diversas perguntas até que me veio a inspiração. Perguntei se gostava de ler piadas. Seu rosto se iluminou e ele disse que sim, que adorava ler piadas. Daí nasceu a idéia de criar a lista eletrônica “English For Reading”, rebatizada como “Aprendendo Inglês”, que veicula uma piada ou citação diariamente.
A lista foi e tem sido um sucesso. Muitas pessoas, as quais certamente nunca encontrarei, têm se beneficiado deste trabalho. Muitos milhares de pessoas já assinaram esta lista ao longo dos mais de 20 anos de existência.
Esta lista ilustra outro ponto que considero fundamental. Não vale a pena ter pressa. Muitos de nós desejam aprender inglês de um dia para o outro e acreditam nas promessas que diversos cursos de inglês pouco idôneos não se cansam de espalhar na televisão, em revistas e jornais. Eu envio uma historinha por dia. Se aprendermos duas palavras diariamente, em um ano já serão 700 palavras. Pense bem, as 250 palavras mais comuns da língua inglesa representam cerca de 70% de um texto técnico. Os cognatos, que são as palavras que se parecem em inglês e português, como possible e impossible, que podemos identificar sem a ajuda de ninguém, somam mais 20% do total, o que nos dá quase 90% de um texto. O vocabulário falado no dia a dia é algo entre 2.000 e 3.000 palavras. Neste ritmo, uma piada por dia, em dois ou três anos já teremos um vocabulário de 2.500 palavras. Sem percebermos. Dando boas risadas. Um pouquinho por dia, todos os dias.
Demora muito? Pense nos projetos que você não começou por serem muito demorados. O tempo passou e você está ai, do mesmo jeito. Sem ter começado. Mas se você realmente tem pressa, e quiser aprender a ler mais rápido, não tem problema, leia mais piadas. É só começar a ler. Mas não se esqueça da receita realmente infalível, só vai funcionar se você se divertir.
Neste ponto eu me lembro dos meus tempos de estudante. Eu queria estudar letras, mas por ser um curso de quatro anos eu nem comecei. Não vou nem dizer quantos anos já se passaram desde então, mas neste tempo poderia ter feito o curso diversas vezes. Mas pelo menos eu aprendi a lição.
Enfim, milagres não existem, mas a maior parte do tempo ninguém precisa de milagres. A palavra mágica é simplicidade. Se estiver muito complicado deve ter alguma coisa errada. Pense nisso!
Referências
- As Palavras Mais Comuns da Língua Inglesa
Este foi o livro que escrevi onde descrevo uma metodologia simples e rápida para aprendizado de inglês para leitura de textos técnicos. Este livro preenche uma lacuna importante no ensino da língua inglesa. Apresenta a lista das palavras mais usadas desse idioma, com exemplos de utilização, permitindo conhecer o vocabulário básico da língua inglesa em pouco tempo. Apresenta também uma metodologia de aprendizagem para utilizar esta ferramenta de acesso à informação de vital importância, que é a língua inglesa. - Lista Aprendendo Inglês
Esta lista veicula diariamente uma história, preferencialmente engraçada (afinal, quem não gosta de uma boa piada?), ou uma citação. As histórias estão em inglês, e as palavras mais incomuns são comentadas. Dessa forma os alunos aprendem, todos os dias, duas ou mais palavras novas. Todos os dias. Em um ano esse pequeno esforço diário pode vir a fazer uma grande diferença.