Dicas práticas

Kató Lomb: Lições de uma poliglota

Crédito da Imagem: @felipepelaquim on Unsplash

© Rubens Queiroz de Almeida

Kató Lomb era húngara e possuía formação acadêmica em física e química. Entretanto, a sua paixão foram os idiomas. No curso de sua vida conseguiu feitos admiráveis neste campo, chegando a dominar, em níveis diferentes de competência, mais de 20 idiomas. Era capaz de traduzir e interpretar fluentemente em dez idiomas, sendo que em quatro destes idiomas sem nenhuma preparação. Conseguia, além disso, compreender textos jornalísticos em mais 11 idiomas. Como ela dizia, conseguia ganhar dinheiro com seu conhecimento de dezesseis idiomas (búlgaro, chinês, holandês, inglês, francês, alemão, hebraico, italiano, japonês, latim, polonês, romeno, russo, eslovaco, espanhol e ucraniano).

Ela aprendeu a maior parte de seus idiomas de forma autônoma, através de seu esforço próprio. Seu objetivo em aprender tantos idiomas eram em sua maior parte práticos, para satisfazer seus interesses.

Sua longa vida (faleceu aos 94 anos) foi dedicada ao estudo de idiomas. Publicou inúmeros livros, muitos dos quais foram traduzidos para diversos idiomas.

Nós fomos condicionados a pensar que o aprendizado de um idioma se dá apenas no contexto de um curso de idiomas, o que absolutamente não é verdade, como pode ser comprovado pelo depoimento de diversos poliglotas. A seguir, apresento uma seleção de diversas frases de Kató Lomb a respeito do estudo e aprendizado de idiomas, que nos ajudarão a enxergar o aprendizado segundo uma nova ótica.

Language is the only thing worth knowing even poorly.”
Uma língua é a única coisa que vale a pena conhecer, mesmo que de forma inadequada.

Esta é uma citação muito interessante. Muitos alunos e alunas desistem de aprender um idioma por considerarem que cometem muitos erros. Errar é natural, e mesmo errando, conseguimos transmitir nossas mensagens. Errar fazer parte do processo de aprendizado e me arrisco a dizer que ninguém neste mundo conseguiu dominar um idioma sem cometer erros.

Solely in the world of languages is the amateur of value. Well-intentioned sentences full of mistakes can still build bridges between people.”
Apenas no mundo das línguas o amador tem valor. Frases bem intencionadas, cheias de erros, podem ainda assim construir pontes entre as pessoas.

Esta frase reforça o conceito de que aprender idiomas, mesmo que de forma adequada, vale a pena. Frases cheias de erros podem ainda assim reforçar a ligação entre as pessoas.

Aside from mastery in the fine arts, success in learning anything is the result of genuine interest and amount of energy dedicated to it.”Com exceção da maestria nas belas artes, o sucesso no aprendizado de qualquer coisa é o resultado de interesse genuíno e da quantidade de energia que dedicamos.

Infelizmente, e isto é o resultado de muita propaganda enganosa que vemos nos dias atuais, muitas pessoas pensam que o aprendizado da língua inglesa se dá sem esforço. É preciso, primeiramente, e mais importante, um interesse genuíno no aprendizado. Em segundo lugar, constância, a prática diária. E finalmente, planejamento, saber onde se quer chegar e por qual razão.

Study has never been a burden for me but always an inexhaustible source of joy.”
O estudo para mim nunca foi uma carga, mas sempre uma fonte inesgotável de alegria.

Este é outro ponto muito importante. A quantidade de material disponível para o aprendizado da língua inglesa nos dias de hoje é praticamente inesgotável. Podemos nos dar ao luxo de escolher textos para estudo de acordo com nossos interesses, que nos proporcionem um prazer genuíno. Não existe a necessidade de fixação em material que seja chato ou monótono, como os livros texto das escolas tradicionais de idiomas.

The time spent on language learning is lost unless it reaches a certain daily and weekly concentration.”
O tempo gasto no aprendizado de idiomas se perde a menos que alcance uma certa concentração diária e semanal.
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Parafraseando o Prof. Pierluigi Piazzi, quem estuda sempre, estuda menos e aprende mais. O modelo tradicional de ir às aulas uma ou duas vezes por semana, constitui em muitos casos tempo e dinheiro perdidos. O ideal é que o estudo seja incorporado às nossas atividades diárias de lazer e trabalho. No lazer podemos delinear maneiras de aprender com os programas de TV que assistimos, com as músicas que ouvimos, notícias e muito mais. No trabalho podemos, por exemplo, buscar literatura técnica em inglês, assumir o protagonismo e interagir com estrangeiros, escrever textos, etc.

Self-assurance, motivation, and a good method play a much more important role in language learning than the vague concept of innate ability, and that dealing with languages is not only an effective and joyful means of developing human relationships, but also of preserving one’s mental capacity and spiritual balance.”
Autoconfiança, motivação e um bom método desempenham um papel muito mais importante na aprendizagem de línguas do que o conceito vago de habilidade inata, e que lidar com línguas não é apenas um meio eficaz e alegre de desenvolver relacionamentos humanos, mas também de preservação da capacidade mental e do equilíbrio espiritual.

Este é um dos mitos mais difundidos do aprendizado de idiomas. É mais importante você desenvolver um método de aprendizado do que ficar se prendendo à crença de que é necessária uma habilidade inata para aprender idiomas, ou de que existe uma janela de tempo em que podemos aprender idiomas. Passada esta janela, tudo está perdido. Kató Lomb é um exemplo de que esta afirmação é falsa. Ela começou a aprender idiomas quando tinha por volta de trinta anos e começou a aprender hebraico aos 86 anos de idade. Em suma, TODOS podem aprender.

To speak a foreign language is a matter of practice, and mistakes will be made. Unfortunately, it is difficult for intellectually confident people to accept making mistakes. Therefore they may refrain from speaking.”
Falar um idioma estrangeiro é questão de prática, e erros serão cometidos. Infelizmente, é difícil que pessoas intelectualmente confiantes aceitem cometer erros. Por esta razão, se abstêm de falar.

Este é um problema extremamente comum, já perdi a conta de pessoas inteligentes e dinâmicas que conheci, que por receio de cometer erros, se recusam a conversar em inglês. Ficam constrangidas, envergonhadas, e desistem para sempre de adquirir uma habilidade tão útil quanto dominar a língua inglesa. A questão é, ninguém liga para isto, não existe vergonha em falar errado. Este mito do aprendizado é um dos mais perniciosos que infelizmente a maioria das pessoas carregam por toda a vida.

The traditional way of learning a language (cramming 20-30 words a day and digesting the grammar supplied by a teacher or course book) may satisfy at most one’s sense of duty, but it can hardly serve as a source of joy. Nor will it likely be successful”
A maneira tradicional de aprender uma língua (estudando 20 a 30 palavras por dia e digerindo a gramática fornecida por um professor ou livro texto) pode satisfazer no máximo o senso de dever, mas dificilmente servirá como uma fonte de prazer. Nem será bem sucedida.

Estudar deve ser uma fonte de prazer, e eu não consigo pensar em algo mais maçante e desestimulante do que estudar gramática e memorizar palavras do nada. Este é o caminho mais rápido para a frustração e para o fracasso, e de quebra você ainda leva um complexo de inferioridade de brinde, pois este enfoque definitivamente não funciona.

One learns grammar from language, not language from grammar”
Aprende-se a gramática a partir da língua, e não a língua a partir da gramática

Esta frase é uma das minhas preferidas. Já disse várias vezes e repito, estudar gramática não é a maneira correta de aprender um idioma. A gramática é um conjunto de regras que estudiosos criaram a partir da língua. Um idioma evolui e muda de forma natural, a partir da interação das pessoas e as regras são criadas a partir da língua viva. Falar com fluência é o mesmo processo de aprender a andar de bicicleta. Quando estamos aprendendo a andar de bicicleta somos extremamente conscientes de tudo que fazemos. Com o tempo e a prática, conseguimos fazer muitas outras coisas enquanto andamos de bicicleta. Conversar, observar a natureza, ouvir música, etc. Neste momento o nosso consciente não mais se ocupa do ato de andar de bicicleta, este processo é gerenciado por nosso subconsciente. Da mesma forma, a fluência só é alcançada quando falar se torna uma função de nosso subconsciente, quando falamos sem esforço e sem hesitação. Se para falar precisamos recorrer constantemente às regras, o fato é que não falaremos. E o pior, para cada regra da língua inglesa existem inúmeras exceções, o que torna esta tarefa algo no mínimo impossível. O segredo é simples, aprendemos nos expondo ao idioma, pelo maior tempo que pudermos.

Referências

A maior parte destas frases foi retirada do livro POLYGLOT – How I Learn Languages, de autoria de Kató Lomb. O livro é riquíssimo em orientações sobre como aprender idiomas. Infelizmente ainda não existe uma tradução deste livro para o português, mas o tradutor do Google pode te ajudar a traduzir trechos do livro.

A biografia de Kató Lomb foi obtida a partir da Wikipedia e também do portal Good Reads.

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Relação completa dos artigos do Portal Aprendendo Inglês

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