Priming Cognitivo: Uma Nova Abordagem para Aprender Inglês

© Rubens Queiroz de Almeida

Sabe aquela técnica de exames que aprendemos na escola de ler um texto duas vezes para só então começar a responder as perguntas? Pois é, essa técnica tem um nome: Priming Cognitivo.

Mas o que vem a ser isso e como podemos usar esta prática em nossos estudos da língua inglesa?

Priming, no contexto da psicologia cognitiva, refere-se ao fenômeno em que a exposição a um estímulo influencia a resposta a um estímulo subsequente. A ideia é que, quando uma pessoa é exposta a certa informação, o seu cérebro fica “preparado” para processar informações relacionadas de maneira mais eficiente. Essa técnica pode ser particularmente útil no aprendizado de línguas, onde a fluência e a reconhecimento rápido de estruturas linguísticas são fundamentais.

O priming cognitivo ocorre porque nosso cérebro armazena e organiza informações de maneira associativa. Quando um conceito é ativado, conceitos relacionados também são ativados, tornando mais fácil o processamento de informações subsequentes. Por exemplo, se um estudante de inglês for exposto à palavra “dog”, seu cérebro ficará mais preparado para processar palavras como “bark“, “puppy“, ou “tail“. Essa preparação não é consciente, mas pode facilitar a resposta e a compreensão.

Este conceito também ajuda a entender porque alguns textos são mais fáceis de entender e outros mais difíceis. Ao lermos textos em inglês sobre assuntos com os quais estamos familiarizados, a informação se “encaixa” mais facilmente no referencial de conhecimentos que já possuímos. No aprendizado de idiomas este é um conceito muito importante, pois a não compreensão de um texto pode se dar por razões alheias ao idioma em si, mas sim do nosso conhecimento prévio sobre o assunto e da falta de um referencial prévio de informações. É vital entendermos este conceito para não deixar que nossa motivação para o estudo seja destruída.

Vejamos algumas formas adicionais sobre como podemos usar este conceito em nossos estudos da língua inglesa:

1. Vocabulário e Associações Semânticas: Uma das formas mais diretas de aplicar o priming é através do ensino de vocabulário. Ao introduzir novas palavras, os educadores podem estrategicamente usar palavras que são semanticamente relacionadas. Um estudante que aprende a palavra “ocean” poderia ser exposto a palavras como “wave”, “beach”, “salt”, e “fish”. Isso não apenas facilita a memorização, mas também ajuda os estudantes a construir redes de associação que tornam a recuperação futura dessas palavras mais eficiente.
2. Estruturas Gramaticais: O priming pode ser usado para ensinar estruturas gramaticais complexas. Por exemplo, ao introduzir o presente perfeito contínuo, um professor pode começar com exemplos do presente contínuo e do presente perfeito separadamente. Isso prepara o caminho para que os alunos compreendam a combinação dessas duas estruturas. Ao ver frases no presente contínuo e perfeito, os alunos são primados para reconhecer padrões e aplicar logicamente o uso combinado.
3. Compreensão Auditiva e Leitura: Na compreensão auditiva, o priming pode ajudar os alunos a se tornarem ouvintes mais ativos. Antes de escutar um áudio, os estudantes podem ser expostos a palavras-chave ou tópicos que aparecerão. Isso prepara o cérebro para processar a informação auditiva de forma mais eficiente, pois algumas barreiras iniciais de compreensão já foram superadas. Da mesma forma, ao ler textos, o fornecimento de um resumo ou de uma lista de palavras-chave pode ajudar os alunos a se prepararem cognitivamente para entender o conteúdo.
4. Prática de Conversação: Nas atividades de conversação, o priming pode ser aplicado pedindo aos estudantes que reflitam brevemente sobre tópicos relacionados antes de iniciar uma conversa. Por exemplo, antes de discutir sobre viagens, os alunos podem listar mentalmente lugares que gostariam de visitar, ou experiências de viagem que tiveram. Isso ativa associações relevantes, facilitando a fluência durante a conversação.

Benefícios para Aprendizes de Inglês

1. Aumento da Fluência: O priming cognitivo pode levar a um aumento significativo na fluência verbal. Como o cérebro é preparado para reconhecer rapidamente palavras e estruturas associadas, os alunos conseguem recuperar palavras e frases mais rapidamente, tornando a conversa mais natural e menos hesitante.
2. Melhoria na Compreensão: Estudantes frequentemente lutam para entender o inglês falado ou escrito por causa da densidade de informações novas. Com o priming, a carga cognitiva é reduzida, pois o cérebro já está parcialmente preparado para o processamento das informações. Isso leva a uma compreensão mais eficiente e a uma experiência de aprendizado menos frustrante.
3. Consolidação de Memória: As técnicas de priming ajudam a consolidar a memória de longo prazo. Ao criar mais conexões entre palavras e conceitos, os estudantes desenvolvem uma rede mais robusta de conhecimento que é menos suscetível ao esquecimento. Isso é crucial no aprendizado de idiomas, onde a retenção de vocabulário e estruturas é essencial.

Conclusão

O priming cognitivo representa uma forma eficaz de otimizar o aprendizado de inglês como segundo idioma. Ao preparar o cérebro para processar informações linguisticamente relevantes de maneira mais eficiente, os alunos podem acelerar seu progresso na aquisição de fluência e compreensão. Para maximizar os benefícios do priming, é essencial que tanto educadores quanto alunos reconheçam seu potencial e integrem estratégias de priming em práticas diárias de aprendizado. Essa abordagem não apenas melhora o desempenho, mas também promove um aprendizado mais autônomo e eficaz, capacitando os estudantes a navegar com confiança pelo complexo mundo do domínio de um novo idioma.

Referências

1. Thinking, Fast and Slow por Daniel Kahneman: Este livro clássico explora muitos conceitos da psicologia cognitiva, incluindo priming. Kahneman discute como pequenos estímulos podem influenciar nosso pensamento e comportamento de maneiras sutis.
2. The Psychology of Influence: Theory, Research, and Practice, por David R. Roskos-Ewoldsen e col.: Este livro aborda como o priming e outros processos psicológicos afetam a persuasão e a influência social.
3. Influence: Science and Practice, por Robert B. Cialdini: Enquanto este livro foca principalmente na persuasão, ele inclui discussões sobre como o priming pode ser utilizado na comunicação e marketing.
4. Very Well Mind: é um recurso online confiável que oferece artigos sobre psicologia e saúde mental. Você pode encontrar materiais sobre priming e outros fenômenos cognitivos.
5. Psychology Today: publica artigos de especialistas em psicologia e pode incluir discussões sobre priming cognitivo em contextos diários.
6. ResearchGate: é uma rede social para cientistas e pesquisadores, onde você pode encontrar artigos acadêmicos sobre priming. Procure artigos de pesquisadores especializados em psicologia cognitiva.