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© Rubens Queiroz de Almeida
A poliglota húngara Kató Lomb (1909-2003) afirmava falar fluentemente 10 idiomas, ser capaz de traduzir documentos técnicos, divertir-se com textos ficcionais em mais seis, e entender textos jornalísticos em outros 11 idiomas. Somando tudo, ela conhecia, com níveis variados de fluência, cerca de 27 idiomas. Tudo isso por meio de estudos realizados ao longo de 25 anos.
No seu livro, Polyglot: How I learn languages, ela nos apresenta com muita erudição e bom humor, diversas facetas de sua experiência com o aprendizado de idiomas.
Um destes relatos diz respeito ao momento em que decidiu aprender polonês. Mesmo sem conhecer uma palavra do idioma, ela solicitou sua matrícula na turma avançada.
Ao ser questionada pelo professor quanto ao seu nível de conhecimento, ela respondeu para ele não se incomodar, pois não conhecia sequer uma palavra de polonês.
Ao que o instrutor respondeu: “Mas por qual razão você quer se matricular em uma turma avançada?”
E a resposta, surpreendente: “Porque aqueles que não sabem nada precisam avançar vigorosamente”.
Voltemos então à sua experiência no aprendizado de idiomas: 27 idiomas em 25 anos, o que dá menos de um ano para dominar uma nova língua.
O que ela relatou para o aprendizado de polonês, reflete justamente o oposto do que encontramos em cursos tradicionais de idiomas. Estamos acostumados a estudar em ambientes em que tudo é muito medido, calculado para não causar nenhum tipo de desconforto. Os alunos não têm autonomia para procurar por material de aprendizado que esteja alinhado com seus interesses, e estudam por vários anos com uma receita única, que gera muitas desistências e bloqueios. Em média, o currículo de escolas de idiomas especifica um prazo de 8 anos até atingir a fluência. Pena que nossas vidas são tão curtas, não é?
Ao buscar um nível mais alto, ela se impôs um desafio e saiu da sua zona de conforto. Aprender requer que saiamos da nossa zona de conforto, que busquemos constantemente por desafios.
Praticar a conversação desde o primeiro dia é uma estratégia proposta por um grande número de poliglotas, inclusive Kató Lomb. Infelizmente, muitos de nós pensamos que só podemos começar a conversar quando já tivermos alguma fluência. Este pensamento é extremamente prejudicial, pois mesmo uma fluência básica requer que pratiquemos e erremos muito. Os erros são nossos amigos.
Estudar material que você domina completamente é muito bom e reconfortante, mas se você realmente quiser atingir um nível de fluência avançado, deve sempre buscar conteúdo que lhe apresente desafios adicionais.
Quando algo estiver muito fácil, é chegada a hora de dar o passo adicional e buscar novos desafios.