Dicas práticas

Memória e Ambiente: Por que Mudar o Local de Estudo Faz Diferença

© Rubens Queiroz de Almeida

A nossa tendência natural no tocante ao aprendizado, é pensar que a inteligência é algo imutável que nos é presenteada ao nascimento. Todavia, como já abordado diversas vezes em nossa newsletter, a inteligência depende de diversos fatores como por exemplo alimentação apropriada, sono e repetição dos conceitos.

Uma outra técnica, muito pouco conhecida, consiste em variar o local de estudo. A técnica de variar o local de estudo é uma estratégia que pode potencializar o aprendizado e a retenção de informações. Essa abordagem se baseia na ideia de que mudar regularmente o ambiente de estudo pode criar diferentes associações contextuais no cérebro, facilitando a recuperação da informação posteriormente.

Diversos estudos em psicologia cognitiva apoiam a ideia de que variar o ambiente de estudo melhora a retenção de informações. Um estudo clássico de 1978 realizado por Smith, Glenberg e Bjork demonstrou que estudantes que estudavam a mesma matéria em dois locais diferentes tinham uma melhor retenção do que aqueles que estudavam no mesmo local. A teoria por trás disso é que contextos variados fornecem diferentes “pistas” para a memória, tornando mais fácil lembrar-se da informação em situações futuras.

No contexto do aprendizado de idiomas, variar o local de estudo pode ser particularmente benéfico. Aprender um idioma envolve não apenas memorizar vocabulário e regras gramaticais, mas também desenvolver a capacidade de usar o idioma em situações diversas. Ao estudar em diferentes ambientes, os alunos podem simular a variedade de contextos nos quais precisarão usar o idioma, como em viagens, reuniões de negócios ou interações sociais. Isso pode ajudar a melhorar a fluência e a flexibilidade no uso do idioma.

Podemos aplicar esta técnica de diversas formas, basta usar a sua criatividade. De qualquer forma, seguem algumas sugestões, adote aquelas que melhor se enquadram no seu modo de ser, e melhor ainda, crie a sua própria. 😉

  1. Escolha Locais Diversificados: Tente estudar em diferentes locais, como bibliotecas, cafés, parques ou diferentes cômodos da sua casa. Cada local pode oferecer um ambiente único que pode ajudar a criar associações distintas.
  2. Adapte-se ao Ambiente: Certifique-se de que o local escolhido é adequado para o tipo de estudo que você pretende realizar. Por exemplo, um café pode ser ótimo para leitura ou prática de conversação, enquanto uma biblioteca pode ser melhor para estudo intensivo.
  3. Use Recursos do Local: Aproveite as características únicas de cada ambiente. Se estiver em um parque, por exemplo, pratique a descrição do que vê em voz alta no idioma que está aprendendo.
  4. Estude em Diferentes Horários: Além de variar o local, variar o horário de estudo pode criar ainda mais associações contextuais, aumentando a eficácia da técnica.
  5. Mantenha uma Rotina Flexível: Embora a variação seja importante, também é essencial manter uma rotina de estudo consistente. Tente equilibrar a variação de locais com uma programação regular para maximizar os benefícios.

Ao implementar essa técnica, você pode não apenas melhorar sua capacidade de reter informações, mas também tornar o processo de aprendizado mais dinâmico e interessante. Isso é especialmente útil no aprendizado de idiomas, onde a adaptabilidade e a capacidade de usar o idioma em diferentes contextos são cruciais para o sucesso.

Na mesma linha da variação do local, variar o material de estudo também pode ser benéfico. Em essência, dominar um idioma estrangeiro consiste no estudo de quatro habilidades: ler, escrever, falar e ouvir. Você pode selecionar para leitura simultânea dois ou três livros. Cansou de um dos livros, passe para o outro. Para praticar a audição você pode selecionar materiais diferentes, como por exemplo, séries de TV e podcasts sobre assuntos que lhe interessem. A leitura é a atividade de base, que fortalece as demais, e como tal, reserve uma parcela maior do seu tempo para ela. Use sua criatividade. 😉

Muito sucesso para você 😊

Referências

  • Smith, S. M., & Vela, E. (2001). Environmental context-dependent memory: A review and meta-analysis. *Psychonomic Bulletin & Review, 8*(2), 203-220. https://doi.org/10.3758/BF03197465
  • Godden, D. R., & Baddeley, A. D. (1975). Context-dependent memory in two natural environments: On land and underwater. British Journal of Psychology, 66(3), 325-331. https://doi.org/10.1111/j.2044-8295.1975.tb01468.x
  • Shea, J. B., & Morgan, R. L. (1979). Contextual interference effects on the acquisition, retention, and transfer of a motor skill. Journal of Experimental Psychology: Human Learning and Memory, 5(2), 179-187. https://doi.org/10.1037/0278-7393.5.2.179

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