© Rubens Queiroz de Almeida
Um fato constantemente esquecido por muitos, é que o maior responsável pelo aprendizado é o próprio aluno. Infelizmente aprendemos que só podemos aprender com um professor e em uma escola, o que está longe de representar a verdade.
Pare e pense um pouco nas habilidades essenciais que você desenvolveu e que lhe permitem conduzir sua vida. Quantas delas você aprendeu na escola? Certamente não muitas. Pense também no contrário, em todas as coisas que você aprendeu na escola e que hoje não passam de meras recordações inalcançáveis, que não lhe servem para nada? O número certamente é muito maior.
Por aprendizado não quero dizer apenas assuntos relacionados com as ciências como matemática, física ou química. Por aprendizado refiro-me também àquelas pequenas coisas que tornam a nossa vida mais feliz e produtiva.
Por exemplo, uma das coisas que eu aprendi bem depois de ter concluído o meu curso superior, que produziu uma melhora significativa na minha qualidade de vida, foi o fato de sempre me lembrar de colocar as coisas que preciso com mais frequência em um mesmo lugar. Antes disto eu frequentemente me esquecia onde colocava a chave do carro, ou coisas importantes, e na hora de sair para trabalhar ficava meia hora procurando. Ao fim do processo estava irritado e cansado. Isto já no começo do dia. Idiota, não? Mas para mim fez toda a diferença.
Outra coisa que eu aprendi também depois de muito tempo é que todas as tarefas podem ser completadas se fizermos um pouquinho a cada dia. Muitas tarefas, quando contempladas de forma geral, possuem dimensões assustadoras e uma aura de impossibilidade. Como eu sou muito preguiçoso, sempre deixava as coisas para depois, fabricando justificativas para nunca começar. Eu comecei a ver as coisas de forma diferente ao ler uma tirinha do Snoopy e do seu amigo passarinho, o Woodstock. O Snoopy resolveu ler o livro “Guerra e Paz”, de Tolstoy, de forma bem peculiar. Uma palavra por dia. O problema é que ao chegar na quinta palavra, chegou seu amigo Woodstock e pediu a ele para recomeçar a leitura, o que foi motivo de briga entre os dois amigos. O Snoopy não queria recomeçar de jeito nenhum, afinal de contas, já estava na quinta palavra! Se alguém se anima a ler “Guerra e Paz”, uma palavra por dia ….
Esta pequena historinha me animou a lançar diversos projetos. O primeiro deles foi a lista Dicas-L, onde eu envio uma dica de informática por dia. Pois então, escrever um livro sempre me pareceu uma tarefa assustadora. Com as mensagens escritas diariamente para a lista, ao final de aproximadamente três anos, eu fiz uma compilação das melhores mensagens e publiquei um livro chamado “Linux: Dicas e Truques”.
Gostei bastante da idéia e lancei uma outra lista, a Aprendendo Inglês. Ao dar as aulas de inglês instrumental na Unicamp eu notava que os alunos só liam em inglês quando iam às aulas. Fora delas não tinham nenhum contato com a língua inglesa, embora eu sempre recomendasse que buscassem se expor ao idioma. É claro que apenas as aulas não eram suficientes para desenvolver a habilidade de leitura, então pensei em algo que fosse ao mesmo tempo atraente e que fizesse com que as pessoas lessem diariamente algo em inglês. Veio então a ideia da lista eletrônica que veicula um texto em inglês por dia, uma piada, uma citação, uma história interessante e por aí vai. Considerando-se que o vocabulário básico para entender e se expressar em inglês consiste de algo em torno de 1000 palavras, se você aprender apenas uma palavra nova por dia com as mensagens, em três anos terá um vocabulário que lhe permitirá entender textos em inglês e, dependendo de sua motivação e dedicação, até mesmo desenvolver sua fala. E daí saiu outro livro, “Read in English: Uma Maneira Divertida de Aprender Inglês”.
Muitos irão dizer, “Puxa, três anos, é muito tempo”. Por incrível que pareça, três anos NÃO é muito tempo. Ao terminar meu curso de engenharia pensei em fazer um curso de letras, pois gosto muito de idiomas. Na época, com 23 anos, pensei, “Puxa, um curso de letras dura quatro anos, é muito tempo”. Bom, nos vinte e sete anos que se passaram desde então daria para ter feito o curso de letras umas 7 vezes.
Nas minhas aulas de inglês sempre encontro alunos com remorso por não poderem se dedicar mais, por não terem tempo. Estes sentimentos frequentemente os levam a desistir de seus estudos e deixam de adquirir uma habilidade fundamental para o exercício de suas profissões. Tento então dizer-lhes que não é preciso ter muito tempo para se aprender qualquer coisa, basta fazer um pouco todos os dias.
Resumindo, o tempo passa e se você não fizer nada com o seu tempo ele vai passar do mesmo jeito. Ou seja, determine as suas metas e faça alguma coisa todos os dias para alcançar seus objetivos, mesmo que seja muito pouco. O resultado certamente vai aparecer e você se sentirá muito bem. Quando olhar para trás certamente ficará feliz em saber que os anos que passaram não foram uma procissão monótona de eventos sem importância.
Isto também eu não aprendi na escola, mas tem me ajudado muito.